segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Para não sofrer

Para não sofrer
Hei de me esquivar
Do soco no estômago;
Do tapa com luva de pelica.

Para não sofrer
Hei de cegar
Do garoto de fome, caído;
Do meu direito destituído.

Para não sofrer
Hei de me esquecer
Da infinda guerra que se trava;
Daquela alma que aqui estava.

Para não sofrer
Hei de me acostumar
A acordar sem bom dia;
A beijar sem euforia.

Para não sofrer
Hei de me embriagar
Com cavalares doses de uísque,
Cafeína, anfetamina - ansiolíticos.

Para não sofrer
Hei de mostrar
A todos outros bêbados
Meu ignoto reflexo - minha sanidade.

Para não sofrer
Hei de pagar
O preço da dose;
Vender a alma.

Para não sofrer
Não hei de deixar,
Que a poesia transborde,
Que o coração acelere.

Para não sofrer
Hei de ficar repetitivo,
Para não correr o risco
Do erro, do riso.

Para não sofrer
Hei de ignorar
Qual seja a viscissitude;
Toda e qualquer virtude.

Para não sofrer,
Hei de me diminuir,
Hei de me desmerecer.
Dormir e quiçá com sorte
-morrer.

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