quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Soneto à traição
Sussurra amante teu nome - poeta
Chama-te para o banquete - Calígula
Ebria-te e crava em teu peito- a seta
Prova a terna quimera que embriaga-te;
O doce do beijo que em tua boca
Amarga-se; o arcanjo que ama-te
É o leal veneno deste cálice.
Beba até que em face a morte emudeça
A voz que de dor em teu peito grita
Ignota até que em solidão, pereça.
Carrega tu no sal de cada lágrima
O pérfido arcanjo que seduz
E o leal veneno que lento e triste
- mata.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Anjinha
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Não sei
A vida como ela parece
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Exílio
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Confessional
Desejo o que parece lascivo;
Mas ainda que queria teu beijo,
Minha'lma alegra com teu riso.
Confesso que quando te fito
É simpatia, não minto!
Mas se passas e não me olha
Tomo em paciência, espero a hora.
Confesso que aperto no peito sinto
E do amor indagado minto.
E a mão delatando teme,
Quando entrega-te esses versos, treme.
Confesso que o medo gela
E da boca a fala foge.
Confesso que esse bobo sorriso que vês
Também tem o seu nome.
Confesso que para mim não basta
Entregar-te esses versos, poesia.
Por isso também me entrego:
É teu, meu coração, maria.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Insônia
domingo, 30 de agosto de 2009
O sorriso
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Só sei amar
Pretensioso que sou queria explicar o amor.
Mas poeta que sou só mesmo sei
amar e viver.
Queria eu um caminho mais fácil achar
De um amor mais prazeroso desfrutar,
mas homem que sou só sei mesmo
amar errante e caminhar.
Queria eu com a ponta deste lápis revelar
Todo o segredo que uma alma pode guardar
E o tempo com um virar de dedos controlar.
Sonhador que sou o faria,
Mas só mesmo sei
Viver, caminhar e amar...
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
A vida é um eterno acostumar
Tudo havia terminado quando ao homem que dava vida foi lançado um olhar vindo do espelho de seu quarto. Ele fitou em retribuição cordial o igual homem que o fitava e exasperou-se em estranhamento ao sentir-se completamente alheio àquele. Levantaram as mãos juntos, o homem e a imagem, um a esquerda, o outro a direita; em movimento sincronizado, ambos tocaram a superfície espelhada e a despeito de tão parecidos, logo se acostumaram a não serem a mesma pessoa.
Antes disso o homem havia tido filhos, que para ele já haviam nascido crescidos. Acostumara-se a acordar à noite, a trocar fralda, a pegar bico caído ao chão; Tarde notou que seus quartos estavam vazios, quando se acostumou que chamassem-no de pai.
Antes que tivesse filhos, o homem se casara; antes que percebesse havia acostumado a escutar ''eu te amo'' e responder ''eu também''. Tão logo a isso se acostumara a amar também. Não demorou para que em alguns vãos momentos se esquecesse que casado estava e acostumara também a deixar sua aliança no criado mudo.
Antes que pudesse se casar e ter filhos o homem tinha de se tornar adulto e assim o fez como de costume. Acostumou-se a idéia de que suas idéias e seu ímpeto jovem não mudariam o mundo e acabou se acostumando com a idéia de crescer. Não tardou também para que tudo aquilo que acreditava desfalecesse em sua alma acabando por acostumar a fazer tudo aquilo que julgava errado no juventude.
E foi antes do espelho, dos filhos, do casamento e antes mesmo de ficar adulto que estivemos, eu e o homem, o mais próximos um do outro. Eis que chego onde prometi: o primeiro passo dessa via nada sacra que me levou ao definitivo afastamento do homem a quem dava vida, a vida! Ainda era criança e assistia televisão. Eramos puros e inocentes, por que não? Pareceu-lhe atrativa, talvez indolor a idéia que lhe fora apresentada: ''Acostume-se a acostumar, criança, terás a vida menos ralada''.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
O Eco da Sombra
domingo, 9 de agosto de 2009
A padaria dos sonhos de fama
Diz-se que era um sonho quase sublime o que aquela padaria fazia. Um desses sonhos suculentos em que nos lambuzamos sem o pesar de ter de se limpar depois. Sabendo disso Carlos desceu as escadas, cumprimentou o porteiro e pôs-se na calçada em direção à padaria dos sonhos de fama.
Diz-se também que eram três jovens entediados e uma máquina, dessas que roncam enfurecidas rasgando a cidade. Cansados do conforto de suas vidas e das oportunidades oferecidas, resolveram embarcar naquele veículo, imbuídos com o único objetivo de sentirem-se vivos a despeito de não conhecerem a lei, a ordem, nem Carlos, nem a padaria dos sonhos de fama.
Carlos caminhava sereno apesar da juventude. A padaria dos sonhos de fama era a alguns quarteirões de onde estava e o tempo não parecia preocupá-lo. Seus passos firmes o levariam ao destino e logo teria em suas mãos o suculento sonho com que sonhava.
Os jovens não somente se contentavam com a velocidade com que cortavam o vento, mas para que se sentissem realmente vivos tinham que transpor as amarras que conhecemos como sociedade. Não lhes importava a polícia em perseguição nem a vida do cão que atropelado fora.
Carlos já estava na padaria. Comprara o sonho e agora poderia ir para casa. A pressa não lhe era característica, sabia que para tudo havia seu tempo e ainda não iria lambuzar-se com o sonho que acabara de comprar. Pôs-se de novo na calçada com o mesmo caminhar sereno.
Os jovens dobravam as esquinas, cortavam ruas, avenidas e vidas. E quando banalmente dobraram a avenida da padaria dos sonhos de fama deparam com o garoto que antes não conheciam. Era um garoto com um saco na mão. Talvez carregasse ali alguns pães, ou talvez um sonho.
Carlos olhara surpreso aquele carro azul metálico que havia dobrado a rua em alta velocidade. Ouvia as sirenes ao fundo e sabia que a polícia estava no caminho. Ouvia o amargo cantar dos pneus e o ronco enfurecido dos cavalos do motor se aproximando a galope. Ouvia sussurros de vozes ancestrais, e gritos descomunais. Estava atordoado e parecia não acreditar que tanta coisa se passava em sua cabeça naquela fração de segundo.
O jovem ao volante fitou o garoto que estava logo a sua frente. O choque parecia derradeiro e em meio aos gritos graves dos jovens percebia-se um lampejo de arrependimento, ou talvez aquele brilho, que é sinal de alma, nos olhos fosse vida.
Carlos tinha de escolher entre o sonho e a vida. Largou a sacola que carregava e correu atordoado para se por na calçada novamente.
O jovem ao volante tentou pisar no freio, mas tudo que conseguiu foi o cheiro de queimado e sonho que ficou no asfalto.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
O poema
terça-feira, 16 de junho de 2009
O passado
Sombras se forjam onde
outrora repousava meu caminho.
Intrépidas,destemidas, insolúveis
no passado que me embriaga.
Brotam de solo infértil
lembranças que já deviam estar esquecidas.
Lembranças que deixam o homem estéril,
A mulher nua, a criança adormecida.
Passado, esse balaço errante,
mesmo que estático.
Ora se confunde com o que há de ser,
Ora é enigmático.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
O espelho
Vinícius de Moraes
Os fragmentos de devaneio que vos compartilho são agora tudo que me resta. A sequência de fatos que me impulsionaram a escrever aqui despertaram em mim os mais primitivos e, por que não, sublimes sentimentos que um homem pode sentir; a você leitor, talvez, nada mais cause que a incômoda sensação de que os acontecimentos poderiam ser reais e de fato os são. Não espero que dê crédito ao meu relato, somente peço que seja minha companhia, talvez a única que me resta.
Despertei de sonhos inquietos, arregalei os olhos, até que quase saísem da orbita, à procura de qualquer réstia de luz que desse alguma pista de onde estivesse. Recordo-me vagamente de como havia parado ali. Sabia apenas que era dia. A janela entreaberta deixava entrar um feixe, e apenas um feixe de luz, que repousava sobre um ponto qualquer do chão.
A escuridão dava conforto aos meus olhos recém despertos, mas não conseguia proporcionar conforto igual à alma. Exceto pelo feixe de luz, que me mostrava o azulejo branco-gelo, a sombra reinava soberana sobre o cômodo que outrora eu repousava; confortante e inquieta sombra, que escondia de mim onde estava. Meus pés tocaram o chão frio. Como um desbravador de matas virgens dava passos cuidadosos em direção ao feixe que vinha da janela. Meti um dos dedos por entre a fresta e forcei a abertura – esforço em vão... A janela estava emperrada.
A porta seria a saída natural para aquele pesadelo momentâneo que vivia. Talvez fosse um dia de má sorte, e nada mais – tentava confortar a racionalidade que insistia em me dizer que algo estava errado. Exausto por tentar abrir a janela, tateei a parede até que encontrasse o trinco do que imaginava ser da porta. Quando toquei a maçaneta, o som da voz de minha mãe invadiu meus tímpanos, bigorna e estribo até atingir minha alma inquieta, como uma injeção confortante, acomodando a alma no mais sublime sentimento de alívio: estava em casa.
Meu primeiro ímpeto foi de gritar, mas talvez minha mãe me julgasse louco – até mesmo as mães julgariam. Talvez contasse a ela o que havia passado em minha cabeça e depois talvez pudessemos rir de tamanha ingenuidade da minha mente juvenil. Meu ímpeto, assim como meu devaneio, foram contidos pela inquietude que se alojava sorrateira em meu peito quando forcei o trinco e a porta não se abriu. Fechei os olhos para que talvez pudesse acordar daquele pesadelo, gritei para que minha mãe pudesse abrir as grades que me prendiam e eu pudesse finalmente me libertar; gritava alto - sem me importar com julgamentos -, mas o tom da conversa ao telefone era indiferente aos meus gritos desesperados.
Contive-me, afinal, louco não era. Havia uma explicação lógica para o que estava acontecendo. Estaria sonhando, nada mais. Deitaria, e quando acordasse, a porta estaria aberta, a janela estaria desemperrada e minha estaria alma liberta. Confesso ter sentido medo quando repousei a consciência no travesseiro, logo suplantado pelo pesado sono que me foi inflingido.
Arregalei os olhos novamente, agora incomodados pela claridade que havia invadido meu quarto. A porta estava aberta e nada mais impedia que saísse da prisão que o pesadelo de outrora me prendera. Passos confiantes e apressados me levaram até o portal. Antes de sair me olhei no espelho apressado, para ter certeza de que não mais sonhava; a voz de minha mãe parecia mais nítida e alta, e que felicidade sentia ao ouvir sua voz, na medida que descia as escadas.
Passei o olhar pelos móveis, pela tevê desligada e pelo telefone fora do gancho, ao alcance das mãos de todos; nas mãos de ninguém. Naquele momento tinha poucas certezas; sabia, porém, que não dormia e nunca estivera tão consciente em toda minha vida. Escutava, sim, a voz de minha mãe falando ao telefone – presumo – com dona Gertrudes, mas não conseguia vê-la. Talvez meus sentidos estivessem a me enganar o tempo todo, como uma criança travessa que prega peças no próprio pai. O som que nitidamente vinha da sala, poderia estar vindo da cozinha. Entraria e veria minha mãe, iríamos rir juntos...
Apertei os olhos o máximo que pude, até que ardessem. Esfreguei-os até que a retina quase se deslocasse. Aplicava ali o castigo aos sentidos, como um pai castiga o filho travesso por lhe pregar tal peça que me fora pregada. Não podia acreditar, não queria acreditar que louco estava. As torradas ainda estavam quentes na mesa, o fogo estava aceso, a porta da geladeira aberta, mas nada além de minha presença habitava a hostil cozinha de minha própria casa.
Não pense, leitor, que me deixei ludibriar pela sensação de loucura. Meus irmãos travessos estavam se divertindo às minhas custas, nada mais. Tive essa certeza quando um novo som invadiu meus tímpanos, estribo e bigorna, até acertarem em cheio minha alma desconfortada, depositando sorrateiramente em meu peito a esperança renovada.
Era Chopin, ou talvez Mozart, que ditavam o ritmo que deslizava pelos degraus da escada até o quarto de meus irmãos. Aquelas notas atenuaram todo o temor que sentia da completa solidão e logo em seguida exacerbaram em mim o mais profundo medo que um homem pode sentir – nem mesmo a morte seria pior. A música, ou esperança, que ouvia, não vinha do quarto dos meus irmãos como meus sentidos me diziam, mas do meu quarto que outrora deixara vazio.
Não se espante, leitor, se neste momento escutares um coração palpitar ao seu lado. Pedi-lhe companhia e agora, certamente, escutará meu coração inflingindo estrondosos golpes à caixa toráxica em um som tão assustador quanto o afiar da espada do carrasco. Meti primeiro os pés pelo portal de meu quarto, queria adiar ao máximo o encontro com a verdade. Fechei os olhos antes que eles pudessem ver qualquer coisa que colocasse a prova minha sanidade mental.
Não há tarefa mais difícil que abrir os olhos quando não queremos ver. A música – de Mozart, ou Chopin – invadia meus ouvidos e aumentava ainda mais a tensão que me corroía por dentro. A força do medo que tinha disputava uma queda de braço com as pálpebras que relutavam em abrir. O som da última nota da música havia feito vibrar meus tímpanos, desconcentrei-me da batalha que lutava contra a curiosidade e esta me deu o golpe fatal. Abri os olhos. O silêncio entre a última nota e o começo de uma nova música foram suficientes para despertar em meu íntimo um sentimento de estagnação: a certeza.
Encontrava-me diante do espelho – não que seja importante onde estava, mas o que via. A primeira vez que olhara aquele reflexo, havia notado minha cama, minha janela, a mesa que agora escrevo, nada mais – lembre-se leitor de minha pressa em encontrar o conforto de meu medo. Lancei um olhar mais atento, franzindo as sobrancelhas, à imagem de meu quarto: estava lá minha mãe revirando os lençois, meus irmãos com lágrimas no rosto e uma incômoda lacuna, onde deveria estar. Havia me tornado a imagem de mim mesmo.
quinta-feira, 14 de maio de 2009
O lado de lá do muro, de mim mesmo.
A vodka era barata, mas era o preço que pagava para consolar a eterna decepção que sentia de mim mesmo. O tempo e os acontecimentos haviam me calejado; me tornei uma pessoa extremamente amargurada, desgostosa e, por que não, cruel. A única maneira de me afastar de mim mesmo, era afogando aquilo que alguns chamam de alma, o que não sei se posso chamar de minha, apesar de coabitar o mesmo corpo que o meu. Já havia tomado mais da metade da garrafa e admito ter passado da conta - quem nunca passou. Me dava por satisfeito ao sentir longe a alma, o peso que era obrigado a carregar.
Foi depois de um gole - ou teria sido depois de uma farta mordida no queijo rançoso - que vi, por mais que meus sentidos negassem com veemencia aquilo que era evidente, a surgência de um muro, tijolo por tijolo, rasgando ao meio meu quarto e sala e me separando da alma.
Confesso, enrubrecido, mas confesso, que o corpo inóco me dava uma sensação plena de liberdade, uma ausência de qualquer grilhão que aquela altura tentava me forjar. Não pense que enlouqueci; lhe avisei, leitor, não me julgue. Apenas narro os fatos e foi exatamente assim que aconteceu.
Enquanto recobrava a sobriedade, também sentia uma sensação nunca antes sentida. Sempre esperava armagurado o retorno de minha alma que era recobrada com a sobriedade e agora sentia um prazer raro - raríssimo - de poder não sentir a agonia do convívio comigo mesmo. Me olhei no espelho e não mais sentia a ameaça iminente.
O raro sentimento foi efêmero, como um gozo. Logo a inquietação tomou o lugar da segurança que sentia e agora a solidão pairava entre as paredes e o muro do meu quarto e sala. O convívio com o medo de mim mesmo já não me fazia companhia - e que outra companhia tem alguém tão amargurado. Levantei-me da posição fetal que estava a observar o muro, caminhei até a janela e vi lá fora os muros surgentes; separavam ruas, casas, vidas e almas...
Meu devaneio foi interrompido nesse momento. Um som estridente, ou uma voz vinha do outro lado do muro, que agora observava com os olhos apertados numa tentativa de dar credito aos meus sentidos que se recusavam a ver as evidencias. A passos surdos, caminhei até o muro, encostei a orelha nos tijolos frios a fim de ouvir aquilo, que alguns segundos depois, descobri ser o clamor da essência, que agora sabia ser minha, em reestabelecer o calvário.
Precisava da compania do medo de mim mesmo. Meus inócuos sentimentos sem alma tentavam me fazer sentir seguro, mas ainda sim era só - o que é um homem sozinho senão já morto. Meu instindo, ou talvez o desejo inconsciente de traspor o muro me fizeram olhar para o lado. Lá estava uma marreta, deixada ali, pelos homens que há pouco reformavam minha casa, ou pelo destino. A marreta também clamava para por o muro à baixo.
Era meu sublime dever reestabelecer o calvário, as vozes me diziam. Um dever amaríssimo, é verdade, mas que dever não o é. As vozes que vinham da minha cabeça, ou do outro lado do muro, me instigavam e a esse ponto ficavam cada vez mais altas, a ponto de escutá-las elas e nada mais. Agarrei a marreto com a veemencia de um padre que se agarra no crucifixo. Instrumento de destruição e renascimento - que ironia - agora inflingia aos tijolos severos golpes que faziam sangrar por entre o reboco.
Um a um os tijolos iam a baixo e sempre que um caía no chão me deixava mais proximo de mim mesmo; as vozes ficavam mais fortes. ''Não pule'', escutava surdamente em meio aos murmúrios indecifráveis de vozes ancestrais; devia ser a consciencia, nada mais. O útimo tijolo foi a baixo, agora havia espaço suficiente para passar para o lado de lá, da alma, de mim mesmo. Transpus o muro e finalmente me encontrei... a seis andares do chão; cinco, quatro, três...
Sobre cães e lebres
Liberdade é um conceito relativizado - varia de indivíduo para indivíduo. Talvez ela se explique pelo direito de ir, vir e permanecer ou até pela possibilidade de expressar uma ideia, dependendo de quem a concebe(a liberdade) . Essa relativização ocorre porque constantemente confundimos ser livres com a sensação de liberdade. Enquanto expressar uma opinião ou até mesmo nadar nu em mar aberto nos dá uma sensação de sermos livres, a liberdade é um conceito arquetipado; por mais que nos sentimos desprendidos dos grilhões que nos forjam, há sempre um grilhão que impede a liberdade plena.
Entendo que ser livre é como ser feliz. Não exise felicidade plena, mas isso não é impedimento para se viver momentos felizes; o mesmo vale para a liberdade. A eterna possibilidade, aliada ao desejo, de alcançar a lebre, mantém o cão na corrida; a eterna busca pela libertação - por que não de si mesmo - mantém o homem vivo.
Não vejo, porém, a liberdade como utopia, apesar de inalcançável. É ingenuidade pensar que muros e barras de ferro são instrumentos de privação de liberdade. O homem em sua grandiosidade, enquanto pensamento, transcende as barreiras físicas. Sonhos, utopias e idéias são tão concretas quanto o concreto que impede a carne de ir, vir e permanecer.
Conclui-se que a liberdade talvez seja uma utopia concreta, por mais paradoxal que isso possa parecer. Uma topia que mantemos sempre à vista, como um arquétipo ( modelo a ser seguido), um guia. Não fossem as concretas lebres, não haveria motivo para correr; e a escolha entre correr ou não é uma metáfora entre viver e não viver, ser ou não ser.
Sobre cães, homens, lebres e liberade: não há um único cão que tenha abocanhado a lebre de madeira- ou de plástico, que seja - da mesma maneira que não há um único cão que tenha parado de correr. Para que ser livre, enquanto podemos escolher correr sempre atrás da liberdade...