Envoltos nessa atmosfera teatral, somos inspirados por Jacksons, Ches, Madonnas, figuras encobertas pelo manto da própria imagem, lembradas e estampadas pelo que representam e não pela pessoa que são. São estes nossos heróis, nossos arquétipos; aplaudidos por uma sociedade do espetáculo e aplaudindo esta.
Voltamos, senhores, à caverna, onde as sombras que nos alienam são também a verdade que nos sacia. Voltamos à tempos ancestrais, à barbárie, disputando a tapas o ingresso de um funeral. Fazemos da vida um grande show, em que o fundamental é estar sob os holofote, a imagem que queremos apresentar, seja ela de um cadáver, de um mini-vestido rosa ou de um sanguinário guerrilheiro estampado, tal qual um herói, na camiseta da criança.
Mas não achemos, caríssimos, que esse universo dos ícones ''imortais'' nos é distante. Voltamos também a nos forjar em grilhões nas cavernas. As relações humanas cada vez menos pautadas no ''ser'', a constante ânsia por auto-projeção - vide Geise Arruda, que agora frequenta até festas beneficentes das freiras beneditinas - e uma terna preocupação, não com o que somos, mas com a imagem que queremos vender, faz com que atos como os da família Jackson e a venda de camisetas com a ''marca'' Che, sejam meras metáforas desta sociedade que convivemos.
Já não nos basta vender a casa, ou vender o carro, ou vender a natureza. Queremos também vender a nós mesmos, nossa alma. Então temos de fazer o produto aparentar ser atraente. Queremos parecer mais ricos e compramos aquilo que nosso dinheiro não pode pagar; queremos parecer mais altos e logo metemos nos pés um desconfortável salto; queremos parecer mais felizes e lá se vão doses cavalares de calmantes, ansiolíticos, uísque. Nos embriagamos dessa vida real a fim de mostrar a tantos outros bêbados que somos, ou pelo menos parecemos, sãos - até que as cortinas se fechem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário